Primeira mulher cacica de Goiás lidera aldeia indígena às margens do Araguaia

Valdirene Mahudikè, da etnia Yny Karajá, fez história ao se tornar a primeira mulher cacica de Goiás, segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Ela assumiu a liderança da Aldeia Buridina, em Aruanã, no noroeste do estado, ao lado da vice-cacica Clauderice Buré.

“Eu aceitei esse desafio pelo bem do meu povo. Um povo Inã, guerreiro e forte, que sempre ajudei e cuidei com amor”, afirmou Valdirene.

Educadora e gestora do Colégio Estadual Indígena Maurehi, a cacica lidera uma escola trilíngue – com aulas em Inyrybé (língua Karajá), português e inglês – e agora concilia a rotina escolar com a missão de preservar a cultura de seu povo.

O principal objetivo de sua liderança, segundo Valdirene, é manter viva a cultura Inã, com foco na língua, artesanato e tradições passadas de geração em geração. “É ensinar nossos filhos e netos, é garantir que a nossa história continue viva”, enfatizou.

Desafios na cidade

Instalada no centro urbano de Aruanã, a Aldeia Buridina enfrenta constantes pressões territoriais. “Estamos cercados pelos não indígenas. A demanda por território, educação e saúde é enorme. A luta é diária”, relatou a cacica.

Valdirene já havia assumido interinamente a liderança ainda na adolescência, após a morte do primeiro cacique, seu tio. Nos anos seguintes, apoiou o então líder Raul Rabacate, que faleceu no ano passado, abrindo caminho para sua eleição definitiva.

Outro objetivo importante da nova gestão é reaproximar os Karajá da Ilha do Bananal, região onde está localizada a maior aldeia do povo. “Ter recursos para trazê-los e fortalecer nossas raízes é uma das nossas metas”, completou.

A ascensão de Valdirene representa um marco para os povos indígenas de Goiás e reforça a força das mulheres indígenas na luta pela preservação cultural e pelos direitos territoriais.